domingo, julho 31, 2005

há palavras que nos beijam...

Há palavras que nos beiijam
como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
de imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas,
quando a noite perde o rosto.
Palavras que se recusam
aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
entre palavras sem cor.
Esperadas, inesperadas,
como a Poesia e o Amor.

O nome de quem se ama
letra a letra revelado
num mármore distraído
num papel abandonado.

Palavras que nos transportam
aonde a noite é mais forte.

Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a Morte.


Alexandre O'neil

Há palavras que nos beijam, palavras que doem mais que pontapés, que estalos, que murros...

domingo, julho 24, 2005

noite de música imeeeeeeensa

Local: Ruínas da Igreja de Santa Maria, no Castelo de Palmela.
Data: Sábado, 23 de Julho às 22.00h
Motivo: Espectáculo ao vivo das Danças Ocultas
Frase da noite: "Eu sou imeeeeeeeeeeeeeenso!" :)

Há noites em que não se deve ficar em casa e ontem foi uma dessas ocasiões. As Danças Ocultas, um quarteto nacional de concertinas, deram um concerto ao ar livre no Castelo de Palmela que para mim foi um dos melhores momentos de música a que assisti nos últimos meses.

O cenário não podia ser melhor: as ruínas de uma Igreja em que o espaço era dividido entre público e músicos, numa proximidade que, mesmo num espaço ao ar livre, foi responsável pela intimidade que o concerto exigia. Quanto à música, palavras para quê? São músicos nacionais de grande qualidade com uma cumplicidade tal que se reflecte na forma como interpretam os temas. As cumplices trocas de olhares entre eles, a forma como brincam à séria com a música, a entrega e o prazer que sentem ao estar em palco, tem como resultado uma música imensa, povoada de sonoridades cuja origem questionei vezes sem conta. Será que aqueles sons vêm mesmo das concertinas? Claro que sim, mas vêm muito mais da maneira como aqueles músicos as tocam e nos tocam com o que fazem. E tocaram mesmo. Foi uma noite de música imensa. Uma imensa música que conseguiu embalar e envolver e fazer sentir coisas que há muito não sentia.

quarta-feira, julho 20, 2005

canibalismo pós-moderno

Aos nossos olhos, a ideia de haver alguém que vive com a carne humana como principal alimento parece a coisa mais terrível do mundo. Ser canibal é algo que não compreendemos e que, muitas vezes, rejeitamos sem sequer pensar que aquelas pessoas vivem numa outra cultura, numa outra sociedade, com uma outra forma de ver o mundo. Temos a mania que somos superiores a tudo isso, convictos que estamos de viver numa sociedade melhor que todas as outras. Mas será que é mesmo assim?

A meu ver, em pleno mundo ocidental, o canibalismo existe. Não que nos andemos a alimentar, no sentido literal da palavra, da carne do próximo, mas no nosso tão superior mundo esta prática está presente, assumindo contornos mais requintados e aceitáveis. Somos canibalizados todos os dias no emprego e na forma como nos tratam como uma massa produtiva que, quando já não serve, é atirada ao lixo tal como fazemos com os restos dos ossos e espinhas da nossa comida. Somos canibalizados quando andamos em transportes apertados tal como vacas e bois a caminho do matadouro. Somos canibalizados porque somos encarados como um grande rebanho que presta uma estranha Fé a um pastor que se esconde atrás dos grandes grupos económicos. Ainda acham que o canibalismo não existe no nosso perfeito e tão superior mundo?

Pois bem, passemos então ao campo das relações humanas. A facilidade com que se troca de pessoas e a simplicidade com que hoje se engata alguém com quem acabamos por ter sexo, sem sequer saber o seu verdadeiro nome, é o exemplo mais gritante do quão canibais nos tornámos. A internet é um dos grandes "talhos´" ao dispor de quem quer "adquirir" a carne e o suor humanos. Hoje é mais simples optar por uma vida rápida e plena de momentos fugazes nos quais se dá uma queca com amizades mais ou menos coloridas. É mais fácil e não chateia tanto. Temos ali a pessoa e de vez em quando lá vamos "petiscar" mais um pouco. E o que é que fica depois disso? Nada. Vamo-nos alimentando dos sentimentos de alguém (que até pode muito bem gostar de nós sem suspeitarmos) algo que, quanto a mim, é muito mais cruel do que aquilo que os verdadeiros canibais fazem. É que pelo menos eles matam a pessoa por razões de sobrevivência e tudo acaba ali. Nós fazêmo-lo com um outro requinte, de forma mais dolorosa que deixa marcas em alguém que vai ter que continuar a viver com isso.

Agora digam-me: quem são, afinal, os verdadeiros canibais? Quem são os piores? Eles (os verdadeiros que matam para sobreviver) ou nós adquirimos a carne e o suor humanos nos grandes e modernos "talhos" que estão ao nosso dispor à distância de um clique (e não só)? Digam-me, ainda acham que eles são piores e mais cruéis que nós?

PS: Para reforçar a ideia do meu texto leiam o post "pecado comum" no blog where you hide, , de Pedro Monteiro.

segunda-feira, julho 18, 2005

dúvidas existênciais

Num mundo pleno de incertezas porque é que as pessoas insistem em não seguir o caminho que as leva à felicidade, optando por seguir trilhos onde o orgulho impera e em que as vivências fugazes nada têm de definitivo?

segunda-feira, julho 11, 2005

causas

Certamente já repararam na lista branca no canto superior direito do blog. Foi retirada do site Make Poverty History, uma página criada na sequência da Cimeira do G8 como forma de alertar os "grandes" do mundo para o facto de que a pobreza existe e que é necessário resolvê-la.

Não acredito na solidariedade que hoje se pratica e muito menos na ideia de donativo. Aliás, de nada serve saciar a fome a um pobre porque não é isso que irá resolver o seu problema. A solução passa por criar condições para que aquela pessoa a quem muitas vezes damos uns trocos, passe a ter autonomia própria, amor próprio e consiga encontrar o caminho para a autosuficiência. E tudo começa com o devolver a todos os que precisam as coisas básicas necessárias para uma vida digna. Começa, por exemplo, por tratar os pobres de forma igual a um outro qualquer cidadão que recorre a um centro de emprego ou a uma repartição. São pequenos actos como este que podem fazer a diferença porque é necessário que os pobres deixem de ser encarados como os coitadinhos da sociedade, para possam ganhar a auto-estima e a força que os vai tirar daquela situação ou, pelo menos, atenuar os efeitos de uma vida que parece ter perdido o rumo.

A razão pela qual coloquei esta faixa branca no blog não é por solidariedade. É uma forma de alertar e de chamar à realidade todos aqueles que pensam que a pobreza se resolve com esmolas. Enganam-se. A solução tem que vir de cima, dos tais "grandes" que possuem condições para a criação de infraestruturas básicas nos países do chamado terceiro mundo. É necessário desenvolver esses países, mas nunca no sentido da exploração de recursos ou de mão-de-obra. A solução é criar estruturas para que aquelas pessoas ali possam trabalhar, receber o seu salário e, consequentemente, consumir para que a economia se possa desenvolver. Este é o caminho, este é o meu alerta, esta é a minha contribuição.

quarta-feira, julho 06, 2005

it's evolution, baby

O que é que nos faz parecer diferentes aos olhos de outra pessoa? Será o facto de estarmos realmente diferentes ou, pelo contrário, será que os olhos dessa pessoa hoje nos vêem de outra forma?

Desde sábado que penso nisto afincadamente. À medida que vamos desenvolvendo a nossa cognição, há a tendência (justificada e justificável) para ver e agir de forma diferente. Durante o nosso percurso, vamos absorvendo ensinamentos e experiência que nos fazem ganhar outras formas de encarar o mundo, de percepcionar as situações e de lidar com as pessoas. É quase como se, de repente, nos dessem umas novas lentes através das quais o mundo nos parece de outra forma, facto que, consequentemente, altera o nosso comportamento perante o mundo e os outros seres.

Esta é a única explicação que encontro para o facto de me dizerem que estou diferente. Mudei. Todos mudamos, caramba. "Todo o mundo é feito de mudança". Mas até que ponto essa mudança altera aquilo que somos? Bem, conhecendo como me conheço, a resposta é: em nada! Por mais que mudem, as pessoas continuam a ser as mesmas, mesmo que o neguem. Por isso mesmo, se dizem que estou diferente, eu não lhe chamaria mudança, mas antes evolução. Uma evolução coerente porque, acima de tudo, defendo até à última consequência a minha coerência e integridade mesmo que, aos olhos dos outros, isto possa ser difícil de entender/perceber.

Posso mudar, mas sei que sou o mesmo Nuno de sempre. E que gosto tenho em o ser! E sou apenas eu, nada mais. Tal como os olhos do poeta...

Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

terça-feira, julho 05, 2005

parvos virtuais

É engraçado como uma parte da matéria que estou a estudar para o próximo teste faz tanto sentido nesta altura. A coisa é mais ou menos assim: segundo os autores, quando conhecemos alguém, logo nas primeiras impressões, temos tendência para criar uma "entidade social virtual". Em palavras mais simples, a ideia é de que quando nos confrontamos pela primeira vez com uma pessoa criamos automaticamente uma nova entidade que, na maioria dos casos, não é a mesma da pessoa que ali está à nossa frente, mas antes um ser virtual criado à imagem do que mais desejamos.

Mais uma vez, a teoria vem provar o quão estúpido o ser humano é, principalmente quando queremos que os outros tenham as atitudes que gostaríamos de ver tomar forma.
Caramba, somos mesmo parvos!