sexta-feira, abril 15, 2005

sabedoria parapular

A sabedoria popular é prodigiosa. Os provérbios são disso um exemplo. Pequenas frases que, em poucas palavras, dizem e ensinam muito, de forma genialmente concisa e eficaz. Há muitos e bons exemplos e alguns deles são tão fantásticos que invejo o criador de tais preciosidades. Por outro lado, há uma sabedoria do povo à qual dou o nome de "sabedoria parapular". Nós, os portugueses, somos prodigiosos em muita coisa, mas a capacidade de reinventar vocabulário é uma capacidade só ao alcance de alguns. Hoje, na movimentada aula de Psicossociologia das Organizações, a motivação fugiu para outras paragens e procedemos a uma recolha de pequenas (grandes) pérolas desta capacidade inventiva de algumas camadas (ou cambadas) da população. Aqui está o resultado. Incompleto, eu sei...

As áreas da medicina e da saúde, às quais os portugueses recorrem frequentemente, ocupam a primeira posição no ranking destas reinvenções linguísticas. Comecemos pelos exames. No lugar de endoscopia o povo fala em endocuspia, aquele exame que se faz ao estrombo (estômago), e quando uma mulher não quer engravidar, o povo fala de laqueação de trombas (em vez de trompas) para que esta fique histérica (em vez de estéril). Para os homens à volta dos 40 anos a palavra prósta é a mais utilizada quando se referem à próstata e à doença frequente nesta parte do corpo: o câncaro (ou cancro). Por debaixo da pele temos o escoleto (esqueleto) e há mesmo quem tenha um estômago que dirige o almoço (no lugar de digerir o almoço), que pode bem ter sido uma hamburga (ou hambúrguer). Quando estamos mal de saúde tomam-se medicamentos como o ospegic (aspegic), ao tratar-se dos papéis do casamento temos que recorrer ao resisto civil (em vez do registo civil) e quando vestimos uma camisa que fica bem com as calças dizem que temos roupa a conduzir (ou condizer)...

E há mais, muito mais pérolas como estas. Palavras simples que enriquecem e dão um colorido especial ao nosso léxico. Parabéns aos criadores destes geniais termos.

PS: Pela inspiração e pela ajuda nesta recolha, obrigado à Margarida, à Albertina, à Ivone e à Vera. ;)

1 comentário:

Anónimo disse...

atão e o "esgoto cerebral"...