terça-feira, abril 26, 2005

rufus (ou miss Lisboa) @ coliseu



À sua terceira passagem pela capital foi de vez. Consegui, finalmente, estar na mesma sala que Rufus Wainwright onde o Sr. deu um concerto que, para quem o viu pela primeira vez ao vivo como eu, foi algo do outro mundo. Um som fantástico para uma voz e um conjunto de músicos que me fizeram dar por muito bem empregues os euros do bilhete, de tal forma que hoje, se a noite se repetisse, iria de novo ao Coliseu. É assim, sempre que conseguimos ter tão perto, em carne, osso e voz, alguém que nos habituamos a ouvir num formato bem mais plástico.

Depois de uma primeira parte calma (ou calma demais) feita por Joan As Police Woman, que mais tarde viria a compor o lote de músicos de Rufus, e de uma súbita troca de lugares, porque afinal estávamos mal sentados, eis que ao som de "Agnus Dei" se iniciou o tão esperado concerto onde Rufus nos presenteou, ora acompanhado, ora a solo, com 19 músicas, algumas das quais dedicadas à mãe, ao pai, à irmã e, muito bem, a Jeff Buckley e Elliot Smith. À medida que a noite ia avançando, a postura do músico foi-se tornando mais afável e descontraída. Se de início parecia estarmos perante um Rufus versão possidónio-presunçosa, este soube mostrar que tal não era verdade com divertidas conversas entre as músicas, umas menos (ou nada) católicas que outras, ficando o público a saber, por exemplo, que o comboio onde a mãe de Rufus seguia para um concerto havia atropelado uma vaca ou, nas palavras dele, "my mother's hit a cow!"

A "surpresa" da noite ainda estava para vir. Depois de um primeiro final de concerto, o público pediu e Rufus estava preparado (e de que maneira!) para mais. Regresso ao palco para cantar "Old Whore's Diet" e o início de uma secção do concerto digna das melhores fotos. Rufus ameaçou despir o fato de veludo e a camisa branca com mangas à Mozart, como ele fez questão de referir, e despiu-se mesmo, restando umas cuecas azuis com brilhantes, uma facha de miss onde se lia "Miss Lisboa", umas meias às riscas, uns sapatos de salto alto vermelhos, umas asas de anjo (ou diabo) e uma varinha de fada. Atrás dele, despiram-se todos os músicos que o acompanhavam numa encenação de fazer corar os mais pudicos, ainda que o Sr. Rufus se tivesse preocupado, minutos mais tarde, em verificar se alguém havia ficado chocado com tal cena. Ninguém parece ter ficado até porque goza a seu favor o facto dele ser homossexual assumido e todos (ou quase) os que estiveram ontem no Coliseu pouco parecerem importar-se com isso. Estou convencido que mesmo que se importassem rapidamente o esqueceriam. A voz de Rufus faz esquecer qualquer coisa.

Encenações à parte, a verdade é que Rufus Wainwright provou (para mim não era preciso provar nada) o grande músico e cantor que é. Com uma voz soberba do início ao fim (duas ou três pequenas falhas, apenas), o cantor proporcionou uma grande noite de música que tão cedo não me vai sair da cabeça. Hoje, peguei nos álbuns e ouvi-os todos. Senti-os de forma diferente porque no meu cérebro guardei as "poses" e o jeito de cantar dele. Depois de ontem ficou um medo parvo que senti algumas vezes ao longo do concerto. O medo que o destino faça a Rufus o mesmo que a Elliot Smith ou a Jeff Buckley... Esperemos que não. A música perderia, mais uma vez, tanto...

PS: A foto deste post foi retirada do site Cotonete.

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