terça-feira, março 07, 2006

a propósito de Colisão...

A manhã começou com a melhor notícia. Quando todos esperavam algo diferente, eis que os senhores de Hollywood surpreenderam e brindaram Colisão (Crash) com o galardão de Melhor Filme. Confesso que tal possibilidade já me tinha passado pela cabeça, mas o facto do filme não ser tão recente quanto os restantes candidatos acabou por me fazer desacreditar que tal seria possível (apesar de considerar que este era realmente o que merecia). Fiquei histericamente contente com a notícia. Colisão é grande! Faz sentir! Faz querer falar dele a noite toda! Faz querer dizer mais, mais, mais…

Desde a primeira vez que vi o trailler que me apaixonei pelo filme. A frase de promoção desse mesmo trailler (“Sentimos tanto a falta do toque, que acabamos por colidir uns com os outros“) ecoou durante dias na minha cabeça e ganhou forma assim que vi a película pela primeira. Porque raio insistimos em colidir uns com os outros? Porque raio deixamos que os nossos problemas extravasem os limites do nosso corpo, atingindo quem nos rodeia e, muitas vezes, aqueles que nos são mais queridos? Colisão fala de tudo isto. Da falta de paciência que nos afecta, da sensação de perca de controlo do tempo (porque afinal temos tão pouco para nós), da forma como não olhamos para aqueles que partilham os mesmos espaços, encarando-os como objectos acessórios do mundo em que vivemos. E se calhar fazemo-lo porque sentimos mesmo tanto a falta do toque e de sentir aquilo que nos distingue das máquinas: os sentires.

Colisão passa-se em Los Angeles, mas podia ser muito bem passado em qualquer cidade do mundo. O que ali é retratado é transversal às grandes metrópoles. As exigências da vida moderna, que pouco espaço e tempo deixam para que possamos olhar para quem se senta ao nosso lado no autocarro ou para quem está também no trânsito na faixa do lado, fazem com que nos tornemos num autêntico caldeirão de emoções pronto a explodir a qualquer momento. E acredito que tal pode acontecer a qualquer um. É só premir o botão certo (ou errado). Todos podemos ser uma daquelas personagens. Basta que uma reviravolta transforme a nossa pacata e “normal” vida em algo muito diferente…

Porque acredito que as aparências iludem, nunca deixando que saibamos quem se esconde atrás de uma pele…

Sem comentários: