terça-feira, abril 04, 2006

uns lutam, outros lucram

Portugal na linha da frente do combate à pirataria.
Eis o que se lê nas últimas notícias sobre este assunto. Eu fico feliz. Muito feliz mesmo. É bom ver Portugal à frente dos outros países. Pena é que seja sempre pelas piores razões e esta não é excepção. Portugal está na linha da frente do combate não à pirataria, mas sim à fruição cultural dos portugueses, batalha essa iniciada logo à partida com o imposto de 21% sobre os discos, com ausência de políticas culturais ou com o fecho de escolas no interior profundo do país. Mas o que isso interessa aos músicos? Qual a importância de ter uma audiência informada, conhecedora e exigente se o que vale a pena é vender meia dúzia de discos? Sim, porque mesmo sem pirataria, os músicos nacionais vendem meia dúzia de discos.

É curioso verificar toda esta campanha contra a pirataria. Mais curioso é ver os depoimentos de conhecidos artistas nacionais apelando à não pirataria, quando nas suas caras está estampado tudo menos convicção no que estão a dizer. Sinceramente tenho pena dos músicos nacionais porque no fundo a bandeira agora agitada é toda menos a da defesa da música nacional e do seu trabalho. É que o combate à pirataria não os vai beneficiar a eles, mas sim aos artistas estrangeiros que vendem muito mais do que os tugas. Aliás, estes serão os grandes beneficiários de uma luta na qual os nossos artistas (pelos quais nutro o maior respeito como pessoas e profissionais) dão apenas a cara, tendo como beneficio muito pouco. Irrita-me que eles não percebam isso. Irrita-me que não percebam que às editoras nacionais interessa mais a matéria-prima estrangeira e menos a nacional.

Outra coisa que me faz confusão é saber, por conhecimento profissional de causa, que os concertos ao vivo são as maiores fontes de lucro dos músicos, pelo menos em Portugal, onde as vendas, mesmo sem pirataria, são muito poucas. Irrita-me por isso estes depoimentos de defesa ao combate à pirataria.

Senhores músicos, senhores agentes, senhores organizadores de festivais: o público que vos dá lucro comprando bilhetes para os vossos concertos, que vos apoia e grita, sabendo as letras e músicas de cor e que, no fundo, é a vossa razão de existir, é o mesmo dos downloads ilegais. Todos sabemos a crise em que Portugal está mergulhado. Todos sabemos que comprar um ou dois CD’s (cerca de 40 euros) é um fardo pesado para o orçamento familiar. E o que se aprende com dois CD’s por mês? NADA! O que se aprende e conhece com o download mesmo que ilegal? MUITO MAIS!

É graças ao download gratuito que hoje os grandes festivais organizados em Portugal têm o sucesso que se vê. De outra forma, como explicam o sucesso alcançado nesses mesmos eventos por muitas das bandas que nos visitam? Certamente não será por passarem nas nossas rádios. Todos sabemos bem a magra dieta musical que compõe as playlists das nossas emissoras…