segunda-feira, agosto 01, 2005

mais transparente

Confesso que nunca liguei muito a Fado. Talvez porque, até agora, nenhum cantor ou intérprete ter conseguido despertar em mim o "não sei o quê" que nos faz apreciar e sentir a nossa canção. Sim, mais do que gostar da melodia ou de uma ou outra voz é preciso sentir porque só assim a coisa faz sentido. Em relação ao Fado eu não sabia disto; aprendi ontem ao ouvir o último álbum da Mariza e hoje, algumas horas e audições depois, vejo as coisas de forma muito mais "transparente". Sei que já há muito que o devia ter feito. Por diversas razões e canções, fui deixando para trás um tesouro que insisti em esconder e que só agora descobri. Um tesouro que me fez despertar para um universo de sonoridades que agora quero absorver com aquelas pressas de quem quer recuperar o tempo perdido.

A voz da Mariza cheira a Portugal, cheira a ser português, transporta em si o melhor que temos, o melhor que somos. Uma voz que mistura o sentimento do Fado e um calor que vem de África, numa combinação que nos embala e nos aquece. Ouvir o Transparente é uma aventura a cada acorde, a cada tom, a cada chorar da guitarra. Logo na primeira música, um poema de Pessoa musicado, sente-se uma daquelas grandezas que nos reduz à insignificância de meros ouvintes. Chorei, fiquei arrepiado, confesso, e sei que isto para muitos pode parecer exagerado ou demasiado parvo, mas quero lá saber. Eu senti e aqui estou a dizê-lo. Se isso vos despertar vontade para ouvir o álbum, fico contente. Se não, paciência.
Depois, é um desfilar de canções que nos beijam e tocam. Pontos altos: Meu Fado Meu, Medo, Há palavras que nos beijam (poema de Alexandre O'Niell) e Desejos Vãos, canção quase épica que fecha o disco.

Longe de ser uma apologia à cantora, este post é o meu grito, quase uma forma de redenção, e, já agora, um conselho para todos aqueles que quiserem aceitar o desafio, pegar no álbum e ouvi-lo com ouvidos e espírito bem abertos. Foi o que fiz e em menos de 24 horas já o ouvi umas 10 vezes. E não cansa. Resultado: ganhei uma imensa vontade de querer ouvir mais. Afinal, é a nossa música, um grito do ser português, uma forma de exaltar o nosso Portugal e a nossa auto-estima que tanto em baixo anda...
E se me perguntarem o que é preciso para gostar de Fado eu respondo: não sei.

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