quarta-feira, março 09, 2005

verde, amarelo... vermelho

Inspirado pelos sons vindos do Brasil e pelas horas (muitas) dedicadas à descoberta desta temática para mais um trabalho, sinto-me capaz de responder a qualquer pergunta sobre a Música Popular Brasileira (MPB).

A maioria dos cantores e bandas portuguesas pensam, quanto a mim de forma errada, que lá por cantarem em inglês conseguirão alcançar mais depressa a tão esperada internacionalização. Errado! Vejamos o caso da MPB. Se a memória não me atraiçoa, tirando os Sepultura e mais um ou dois exemplos, todos os artistas exportados pelo Brasil cantam em "português verde e amarelo" e não em inglês, conseguindo a internacionalização e provando que a língua não é, nem nunca será, uma barreira para a música. Voltando a Portugal, pensando em quem dos nossos conseguiu passar a fronteira, vemos que casos como os Madredeus, Mísia ou Marisa, continuam a cantar na nossa língua e são bem sucedidos lá fora. Porquê?

Depois da pesquisa que este trabalho envolveu, sinto-me mais esclarecido para tentar responder. Em Portugal, a nova geração de músicos parece estar mais preocupada em fazer temas para vender telemóveis, cantando em inglês e imitando (mal) os ídolos estrangeiros. Pensam que, por praticarem um som parecido ao que se ouve além fronteiras, conseguirão ultrapassá-las. Do outro lado, temos os bons músicos, que sabem o que fazer e que pontualmente conseguem internacionalizar-se. A explicação é simples: música igual já há muita lá fora e as escolhas que os estrangeiros fazem provam que querem ouvir coisas diferentes, genuínas, sólidas e não ocas e vazias. Só assim se explica o sucesso dos Madredeus, por exemplo. Pelo contrário, os brasileiros sempre souberam cultivar bem as suas raízes. Ao conhecer a história da MPB, tudo parece encaixar-se e nada, nenhum tema, estilo ou acorde, está desenquadrado do ambiente de cada época. Ainda hoje, mesmo com as influências vindas do exterior, os brasileiros conseguem manter-se fiéis à sua (nossa) língua e respeitar um passado musical que transborda qualidade. Por isso, a sua produção musical é tão forte, as rádios passam 80% de "música made in Brasil" e os artistas são conhecidos fora do país.

Portugal continua e continuará na mesma enquanto se mantiver a cultura do bota abaixo e uma imensa falta de coragem à qual se juntam os lobby's que todos conhecemos e que sufocam aqueles que nunca deviam ser calados. Tirando algumas pérolas pontuais e a velha guarda, a música nacional tornou-se num pântano amorfo no qual a criatividade é substituída pelo "deixa cá ver se fazemos uma musiquinha que soe bem ao ouvido e que possa vender telemóveis, perfumes ou chocolates".

1 comentário:

Albertina Fonseca disse...

Oi,
Muito interessante...quando li este teu texto e até conversámos sobre ele não sabia a dimensão do que aqui dizes. Hoje, a viver no Brasil, vejo e oiço que é certinha a tua análise. Eu oiço uma rádio aqui, a Rádio Itapema FM que toca música de todos os continentes, incluindo música portuguesa, é verdade, mas depois de tocar duas musicas estrangeiras, tocam a nacional. É uma rádio que toca muito boa musica e gostam particularmente de Pedro Abrunhosa, Madre Deus e outros e curiosidade uma Margarida Pinto que eu pessoalmente nunca tinha ouvido...Hoje mais que nunca pergunta: porque a rádio portuguesa não tem esta postura? Viva a m+usica portuguesa!!!

Beijinhos

Didita